Cerimônia coletiva foi em cartório de Campinas nesta quinta-feira (21). 'Satisfação', diz enfermeira ao usar sobrenome de companheira pela 1ª vez.
Enquanto
muitos optaram por ternos e vestidos de noivas sofisticados - alguns
até extravagantes -, a recepcionista Nareman e a enfermeira Delisie
Martins de Souza preferiram simplificar no traje usado durante a
cerimônia do 1º casamento gay coletivo de Campinas (SP), na tarde desta
quinta-feira (21). A escolha pela cor branca e poucos adereços,
explicaram, foi para pedir paz e valorizar a real simbologia da união.
"O
mais interessante é o significado do casamento. Frequentamos a umbanda e
o branco é tradicional e representa a luta contra o preconceito",
reiterou Nareman, de 55 anos. A cerimônia presidida pela juíza de paz
Aline Priego, no 3º Cartório de Registro Civil, reuniu 16 casais - sendo
12 constituídos pela união entre mulheres. Veja fotos da cerimônia.
Sobre
o fato da união entre mulheres ter representado 75% do casamento
coletivo, Nareman considera que o público masculino é alvo de mais mais
preconceito. "Acredito que seja mais agressivo contra eles, há muitas
pessoas escondidas", ponderou.
Festa
Antes
de iniciar a confraternização promovida pelos recém-casados para
convidados na Estação Cultura, a enfermeira mostrou entusiasmo ao
mencionar o mesmo sobrenome da companheira, após 13 anos de
relacionamento.
"Satisfação.
Esta é a melhor palavra", resumiu Delisie, de 36 anos. O casal possui
união estável há cinco anos e passará a lua de mel na Praia do Itararé,
São Vicente, litoral de São Paulo. "Lá existe um espaço para o público
LGBT. Viajamos amanhã", disse Nareman.
Medo da exposição
Embora
acreditem que o casamento coletivo tenha sido passo importante na luta
contra o preconceito, o casal preferiu que as três filhas - dos
casamentos anteriores - não acompanhassem a cerimônia. "Ficamos com medo
da exposição. Por causa da escola, elas poderiam vir a sofrer algum
tipo de brincadeira constrangedora", ponderou Delisie.
Cerimônia
Foi
em um sala completamente lotada por padrinhos, convidados e imprensa
que os 32 noivos trocaram alianças no primeiro casamento gay coletivo de
Campinas. O primeiro casal a formalizar a união foi a enfermeira Kátia
Marins e o transexual Márcio Régis Vascon. Eles se conheceram quando o
então guarda municipal fazia patrulhamento no local de trabalho dela.
Na
sequência, foi a vez do jornalista Deco Ribeiro e da drag queen Lohren,
que, após trocarem o tradicional beijo e alianças, festejaram com seis
padrinhos e uma chuva de arroz entre os convidados.
“Agora
posso dizer que eu tenho uma família. E ninguém mais pode negar esse
direito que sempre tive, mas antes era negado”, reiterou Lohren.
Durante
confraternização na Estação Cultura, os noivos foram recebidos por pelo
menos 150 convidados, ao som da marcha nupcial, seguida da música "Eu
sei que vou te amar" (Tom Jobim e Vinícius de Moraes).
Procura
A
Prefeitura informou que houve 27 inscrições para a união coletiva no
Centro de Referência LGBT, mas 11 casais desistiram de participar ao não
quitar a taxa do cartório de R$ 340. Cada casal poderia levar dez
convidados para a cerimônia e a organização da festa foi feita pelos
noivos, com auxílio do centro de referência e espaço cedido pelo
município.
Legislação
A
norma que regulamenta o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi
publicada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) em
dezembro do ano passado. Desde 1º de março, casais gays que quiserem
oficializar a união não precisarão recorrer à Justiça.
O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu o casamento gay em maio de 2011.
Fonte: G1